Ninguém estava mais profundamente afeito a esse método do que o abade Du Parquet, preceptor do jovem conde de Nerceuil, de mais ou menos quinze anos e com o mais belo rosto que é possível ver.
- Senhor abade, – dizia diariamente o pequeno conde a seu professor – na verdade, a consubstanciação é algo que está além das minhas forças; é-me absolutamente impossível compreender que duas pessoas possam formar uma só: explicai-me esse mistério, rogo-vos, ou pelo menos colocai-o a meu alcance.
O honesto abade, orgulhoso de obter êxito em sua educação, contente de poder proporcionar ao aluno tudo o que poderia fazer dele, um dia, uma pessoa de bem, imaginou um meio bastante agradável de dirimir as dificuldades que embaraçavam o conde, e esse meio, tomado à natureza, devia necessariamente surtir efeito. Mandou que buscassem em sua casa uma jovem de treze a cartoze anos, e, tendo instruído bem a mimosa, fez com que se unisse a seu jovem aluno.
- Pois bem, – disse-lhe o abade – agora, meu amigo, concebas o mistério da consubstanciação: compreendes com menos dificuldade que é possível que duas pessoas constituam uma só?
- Oh! meu Deus, sim, senhor abade, – diz o encantador energúmeno – agora compreendo tudo com uma facilidade surpreendente; não me admira esse mistério constituir, segundo se diz, toda a alegria das pessoas celestiais, pois é bem agradável quando se é dois a divertir-se em fazer um só.
Dias depois , o pequeno conde pediu ao professor que lhe desse outra aula, porque, conforme afirmava, algo havia ainda “no mistério” que ele não compreendia muito bem, e que só poderia ser explicado celebrando-o uma vez mais, assim como já o fizera. O complacente abade, a quem tal cena diverte tanto quanto a seu aluno, manda trazer de volta a jovem, e a lição recomeça, mas desta vez, o abade particularmente emocionado com a deliciosa visão que lhe apresentava o belo pequeno Nerceuil consubstanciando-se com a sua companheira, não pôde evitar colocar-se como o terceiro na explicação da parábola evangélica, e as belezas por que suas mãos haviam de deslizar acabaram inflamando-o totalmente.
- Parece-me que vai demasiado rápido, – diz Du Parquet, agarrando os quadris do pequeno conde – muita elasticidade nos movimentos, de onde resulta que a conjunção, não sendo mais tão íntima, apresenta bem menos a imagem do mistério que se procura aqui demonstrar… Se fixássemos, sim… dessa maneira, – diz o velhaco, devolvendo a seu aluno o que este empresta à jovem.
- Ah! Oh! meu Deus, o senhor me faz mal – diz o jovem – mas essa cerimônia parece-me inútil; o que ela me acrescenta com relação ao mistério?
- Por Deus! – diz o abade, balbuciando de prazer – não vês, caro amigo, que te ensino tudo ao mesmo tempo? É a trindade, meu filho… é a trindade que hoje te explico; mais cinco ou seis lições iguais a esta e serás doutor na Sorbonne.
Do livro Contos Eróticos de Marquês de Sade
(Hope)
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